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12/04/2018

[Report] Moita Metal Fest 2018 - Dia 2

Segundo dia do Moita Metal Fest (7 de Abril)


Recuperados da noite anterior, lá nos dirigimos à Moita para os treze concertos que se seguiriam:
Toxikull, Wells Valley, Low Torque, Dead Meat, Equaleft, Terror Empire, Malevolence, For The Glory, Switchtense, Iberia, Benighted, Bizarra Locomotiva e Vader!

Às 15h em ponto, os jovens Toxikull deram início ao segundo dia do Moita Metal Fest, ainda com o recinto pouco concorrido.
A banda de Cascais conta já com dois trabalhos editados, sendo o mais recente, o EP The Nightraiser, lançado este ano. Em poucos minutos, já a energia do heavy metal tinha contaminado o ambiente. Com excelente atitude em palco, conseguiram rapidamente conquistar a assistência. O público respondeu ao chamamento e, perto do final da atuação, já contávamos com muito mais gente no interior da tenda.

Os Wells Valley trouxeram um som diferente e um novo ambiente ao recinto. Soube-nos bem ouvir os riffs pesados do doom, a densidade veiculada nos tempos lentos do sludge
A banda lisboeta prima por uma sonoridade carregada de traços oriundos das suas várias influências, e o que podemos dizer é que o conjunto agrada-nos imenso. Destacamos ainda a voz, nos momentos em que a ouvimos rasgar, quase gritar, num efeito que nos pareceu muito bem conseguido. A banda conta já com um álbum (Matter as Regent, 2015) e um EP (The Orphic), editado em 2017. Neste último, inclui-se a cover do tema Set the controls for the heart of the sun, dos Pink Floyd, com que também nos brindaram nesta noite, e que resultou, para nós, num trabalho magnífico, no qual brilhou a voz do guitarrista/vocalista Filipe Correia, num registo limpo. Deliciámo-nos também com os temas Annunciation, Ophanim, e Hands are Void. Este concerto sugeriu trabalho de casa, para ouvir com mais atenção o que já existe dos Wells Valley, que consideramos um nome a reter.

Os Low Torque eram uma das bandas do sábado que quase dispensavam apresentações. 
Continuam fortíssimos, com as enérgicas atuações a que já nos habituaram. David Pais parece ligado à corrente elétrica, não bastasse o facto de possuir um vozeirão invejável. Destacamos os temas Mutant, Supafreak e Scorch the sky, do último álbum Chapter III: Songs from the Vault, que nos permitiram voltar a apreciar este stoner rock, e que também muito agradaram à assistência que, entretanto, ia enchendo a tenda do metal, sob o comando poderoso da bateria de Arlindo Cardoso.



Os albicastrenses Dead Meat dispararam o seu brutal death metal, apostando nos temas do álbum Preachers of Gore, lançado em 2017. 
Encontraram o recinto já cheio e trataram de animá-lo, logo desde o início, interagindo com o público e pedindo-lhe que se aproximasse mais do palco “que à frente, é a partir!”, como insistia o vocalista. Os temas Sliced in Pieces, Good Clean Cut, Symphonies of Impalement, ou Sex, Torture and Depravation, foram acompanhados por uma assistência já mais agitada, que bem os aplaudiu no final.

Estavam reunidas as condições para os senhores que se seguiriam. 
Já tínhamos saudades do groove dos Equaleft e é sempre de aproveitar quando se deslocam à "mouraria" para descarregar um pouco da sua boa energia. Continuam uma máquina bem oleada e nós continuamos a gostar de ouvir os temas do último Adapt and Survive, do qual pudemos voltar a apreciar Maniac, Tremble e New False Horizons. Tivemos ainda direito a três temas novos (Once Upon a Failure, We Defy e Overcoming), a preparar já o lançamento do próximo álbum, agendado para 2018. Verificámos, também, que o vocalista Miguel Inglês continua a revelar uma capacidade de impulsão impressionante e, como se não bastassem os saltos no palco, até no meio do público o vimos, a instigar à formação do circle pit. Foi, como sempre, um concerto movimentado, cheio de força e de otimismo, e muito aplaudido por todos.


Voltámos ao thrash com os Terror Empire, banda já habituada a vir de Coimbra para estas lides.
Fizeram bom uso do público já aquecido pelas bandas anteriores e não deixaram arrefecer o ambiente. Comunicativos, interagiram com a assistência e esta respondeu-lhes à altura, formando circle pit e respondendo às suas interpelações. Foi mais um concerto em que não se deu pela passagem rápida do tempo, durante o qual pudemos ouvir temas como Times of War, Death Wish ou Meaning in Darkness.

Ainda a promover o segundo trabalho de longa-duração, Self Supremacy, e a meio da tour que também passou por França e Espanha, os ingleses Malevolence, fizeram paragem na Moita (única data em Portugal), subiram ao palco imbuídos do espírito metalcore e fizeram estremecer a tenda do festival. A atuação vale pelo embate, a forma como violentamente o público se confronta com os temas, mas também, pelo facto de podermos ir percebendo que a banda faz muito mais do que disparar a influência hardcore, e que é possível detetar outras influências e isolar, por exemplo, momentos melódicos interessantes (o tema Severed Ties é apenas exemplo destas conjugações). Vimos, portanto, o recinto em polvorosa, a acompanhar esta banda, a primeira internacional da noite.

A despedida dos For the Glory, após quinze anos de carreira, constituiu um momento marcante do festival. 
Felizmente, ainda ouvimos o vocalista informar que se trata antes de uma longa pausa, o que já permite dar alguma tranquilidade aos fãs. Apresentaram-se cheios de boa disposição, muito comunicativos, e, numa das várias ocasiões em que se dirigiram ao público, fizeram apelo às bandas nacionais para que não deixem de tocar. Presentearam o público com t-shirts da banda e revestiram esta atuação com uma aura especial, trazendo até ao recinto muitos fãs dispostos a prestar-lhes homenagem, celebrando os muitos momentos de comunhão vividos nas várias atuações ao longo dos anos, que já deixam saudades.

A jogar em casa e mantendo já uma tradição do festival, os Switchtense subiram ao palco dispostos a agitar as hostes com a imponência do seu thrash metal, colocando o Pit a mexer logo desde o primeiro riff de ‘Face Off’. Por entre as vozes que ecoavam pelo público e corpos que se lançavam de cima do palco, as cordas e a bateria debitavam velocidade e violência sem fazer prisioneiros no pit ,que só aumentava de dimensão. Suor de parte a parte, aquela energia contagiante que na Moita parece infinita. Hugo Andrade, muito comunicativo, agradecia a todos os que permitem que o festival continue a crescer e seja atualmente uma das melhores festas que se fazem em solo nacional.
              
Quase tão emblemático como os Switchtense a tocarem no MMF é ver o Chichas a mergulhar no stage diving, antecipando um novo escalar de intensidade no bailarico que decorria na plateia, em temas como ‘State of Resignation’ e ‘Into The Words of Chaos’, antes de tudo acabar como começou, num bruto circle pit.

A grande salva de palmas no final confirmava a satisfação generalizada por mais uma grande atuação.
                
Qualquer relato histórico sobre a cena nacional deve fazer referência aos Iberia, um dos históricos do heavy metal / hard-rock lusitano, retornaram a atividade em 2009, tendo desde então, já lançado Revolution e Much Higher Than a Hope, mostrando-se em boa forma nesta passagem pelo palco do MMF.            
Iniciaram com o público um pouco mais disperso, mas souberam puxar muita gente para a frente do palco, contagiados com a beleza que surge das suas guitarras. Protagonizaram um raro momento de pausa nos circle pit, mas nem por isso a sua música deixou de ser vivida com intensidade por aqueles que assistiram ao desfilar de temas como Angel, Sanctuary of Dreams ou God's Euphoria.

Particularmente bem recebido, foi o tema título do último trabalho Much Higher Than a Hope, que deixou o público entusiasmado e embalado para cantar com a banda no final o clássico Hollywood.
A forma como saíram de palco, mostrou bem como o público da Moita sabe receber as bandas, independentemente do género.

Segundo nome internacional do dia, os franceses Benighted traziam na bagagem todo o peso e brutalidade extrema do seu death metal/ grindcore capaz de abalar a estrutura da tenda que recebia os festivaleiros.
Ainda em promoção de um aclamado álbum Necrobreed, a expectativa em torno desta atuação era muita, percebendo-se facilmente que tinham muitos fãs dedicados entre o público da Moita. Com pura brutalidade, lançaram intermináveis circle pit e stage diving, dando ao bailarico que se gerou proporções absolutamente avassaladoras.

O vocalista Julien Truchan era o espelho da satisfação da receção que estavam a ter por parte da plateia e toda a banda se mostrava rendida à reação do público: não eram só os corpos no mosh que escorriam de suor, todas as superfícies do recintos pareciam sofrer do mesmo. A proximidade a Portugal também se manifestou quando dedicaram um tema aos nacionais Analepsy que, no recinto, se juntavam àqueles que num headbanging energético vibravam com malhas como Reeks of Darkened Zoopsia, Let the Blood Spill Between My Broken Teeth ou o clássico Slut do álbum Icon. Para o final Necrobreed e Experience Your Fles’ para dar como terminada uma saudável e satisfatória sessão de pancada.

Nome maior da cena industrial nacional, e uma das bandas nacionais com uma base de fãs mais sólida, os Bizarra Locomotiva faziam mais uma paragem na estação da Moita, a terceira, atuação inserida nos concertos de celebração dos seus 25 anos de atividade.
Tenda cheia e muitos gritos receberam a banda, com Rui Sidónio a assumir o comando e a conduzir todos por mais uma frenética viagem. A Procissão dos Édipos deu o mote e logo se apercebeu que beneficiariam de um dos melhores sons da noite, ajudando a eletrizar ainda mais aquilo que já seria uma atuação energética. Sidónio não para, faz quilómetros em palco, entrega o micro ao público, salta, desce para o meio dos fãs, veste a personagem com uma atitude contagiante, um verdadeiro animal de palco. O público reage a todos os apelos e instintivamente canta todos os temas que desfilam, percorrendo a vasta discografia do grupo, soltam sinceros coros de aplausos e em uníssono gritam em plenos pulmões pelo nome do grupo, em cada pausa que surge durante a atuação.

O momento de maior êxtase chega com O Anjo exilado, com um palco pequeno para tantos fãs que sobem ao mesmo, quando a atuação chega ao fim. São esses fãs que interpretam O Escaravelho,  acompanhados por Miguel Inglês (Equaleft) que se juntou ao vocalista na plateia, sendo possível observar no palco parte daquilo que construíram ao longo destes anos de atividade, uma singular relação dos Bizarra Locomotiva com os seus fãs. Tocaram 12 temas e muitos mais podiam ter tocado, da parte do público não existia vontade de dar por findo o concerto.

Depois do cancelamento forçado dos Decapitated, por questões legais durante a tour norte-americana, exigia-se outro nome capaz de se erguer ao nível destes. A organização não defraudou os fãs, e retornando à Polónia, chamou até à Moita os Vader, instituição do death metal polaco, desde 1983 a espalhar obscura brutalidade, cimentando uma posição de topo dentro da produtiva cena polaca e conquistando fãs pelo mundo fora, fechando com chave de ouro mais uma grande edição.
Mas nem tudo foi fácil, o difícil Sound Checking, forçou um atraso de cerca de uma hora face à hora prevista para a banda iniciar as hostilidades, tendo a banda mesmo assim encontrado uma tenda cheia, apesar da hora e das muitas horas em cima das pernas da maioria. 

Ainda a celebrar 25 anos de The Ultimate Incantation, focaram a atuação nesse mesmo álbum e como já outras bandas o tinham feito nesse mesmo dia, soltaram uma torrente de circle pits e stage divings que nunca cessou durante toda a atuação, para gáudio de Peter, visivelmente agradado com a hospitalidade das hostes da Moita. Uma atuação em crescendo, beneficiando de um irrepreensível trabalho de bateria de James, que mesmo assim viu algum público partir mais cedo, vencido pelo cansaço, sem que isso se refletisse na intensidade, com energia incansável, com que o concerto era vivido no pit.

Malhas como The Crucified Ones ou Breath of Centuries foram muito bem recebidas, mas foram os temas finais Send Me Back to Hell e Cold Demons, destinados a consumir todas as energias restantes nos corpos, que provocaram o maior tumulto e fecharam da melhor maneira mais uma edição do Moita Metal Fest.

A Moita é linda e o Moita Metal Fest é um dos mais belos exemplos de como fazer um festival de metal eclético em Portugal. Das bandas para as bandas, com total capacidade para promover momentos inesquecíveis aos fãs. 

Para o ano lá estaremos novamente, entre a família escolhida, com a certeza de sermos brindados, mais uma vez, com o espirito que nos faz gritar a todos Moita caralhoooooo!!!


Todas as fotos aqui:


Texto: Sónia Sanches/ Henrique Duarte
Fotos: Hugo Rebelo 

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