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22/12/2017

[Report] RCA Club recebeu de braços abertos o regresso dos DESIRE

No passado sábado, 16 de dezembro, o RCA Club, em Alvalade, recebeu um evento muito especial: o regresso dos DESIRE ao vivo, para assinalar a reedição do álbum Infinity… A Timeless Journey Through an Emotional Dream, agora com a chancela da Alma Mater Books & Records, e com a distribuição da Rastilho Records
A juntar ao excelente concerto de abertura, protagonizado pelos convidados Dark Oath, vimos um trabalho impecável de produção e uma casa cheia de fãs, naquele que considerámos um dos eventos marcantes de 2017.

Por volta das 22h, já a o espaço do RCA Club se encontrava repleta de fãs ansiosos pelos concertos. Os Dark Oath tiveram pouco trabalho a aquecer o ambiente porque a animação reinava pelos balcões já ocupados e pelo espaço do primeiro piso. Todos procuravam um lugar melhor para ver e ouvir, numa sala que já se encontrava quase cheia.
A banda de Coimbra resolveu pôr ordem na sala e não teve meias medidas: o início da atuação foi logo arrebatador, com os guturais da vocalista Sara Leitão a fazer-nos ativar os ouvidos e a reclamar para si a atenção deste público animado. 

Foi bem recebida a carga melódica dos temas, bem como a influência folk que lhes dá alguma cor e leveza. Soaram alguns temas do último trabalho When Fire Engulfs the Earth (o único de longa duração, lançado em 2016), tais como Thousand Beasts e When Fire Engulfs the Earth, que dá o título ao álbum. 
Quando ouvimos as palmas a ecoar dos vários pontos da sala, é que nos apercebemos de que já contávamos com casa cheia. O refrão Brothers! Fight for your lifes!, do tema Brother’s Fall, marcou o final do concerto, com reação muito positiva do público.

Todos assistiram, em suspenso, à preparação do palco para receber os DESIRE: desde o fumo de baixa densidade, às folhas de outono que cobriram a superfície, passando pelos candelabros com as velas acesas, nada faltou na criação do ambiente doom

 

Eram os DESIRE o elemento que faltava e a eles ainda se juntou a voz doce de Eduarda Soeiro (Glasya) e a mestria do violinista Tiago Flores (Corvos). Foi perante a admiração e grande carinho do público que a banda tocou na íntegra o álbum Infinity… A Timeless Journey Through an Emotional Dream, o seu primeiro trabalho de longa duração, lançado em 1996. Talvez porque somos apreciadores, ou porque as condições eram boas, a verdade é que nos soou tão bem como no registo áudio, ou, por outras palavras, igualmente inebriante.
 Considerado por muitos uma obra-prima do doom e um marco no surgimento deste subgénero no cenário musical português, o álbum voltou a brilhar em todo o seu esplendor, logo desde o prólogo, um prelúdio atmosférico que nos altera a frequência cardíaca e prepara-nos para o ambiente em que se desenrola o enredo deste trabalho conceptual. Com os telemóveis em riste, o público aguardava.

É o tema Leaving this Land of Eternal Desires que abre verdadeiramente as portas do universo doom e transmite a melancolia e a dor do sujeito que protagoniza esta viagem.

Os guturais de Tear (Corvus), que também alternam com voz limpa, refletem o desespero, a necessidade de se arrancar do estado em que se encontra, para iniciar a busca incessante de algum alívio para a alma. 


Ele existirá, talvez, nos ecos doces da voz de Eduarda Soeiro, que o chamam (e a nós) para outro plano. A composição mais longa do álbum empurrou-nos lentamente nos riffs arrastados e levou-nos a uma outra fase da viagem. No final, já havia pressa em bater palmas, e ouvimo-las de todos os lados, uns segundos antes de terminar.
 
No tema A Ride in a Dream Crow, brilhou o som inicial do violino e a expressão corporal do vocalista, reflexo perfeito da intensidade da lírica. Antes de distinguirmos o crocitar do corvo que anuncia a música, já se ouviam, no público, alguns sinais de que ela seria bem recebida. Os aplausos finais demonstraram amplamente o entusiasmo e a satisfação que se sentiam na sala.

Em The Purest Dreamer, o destaque vai para o momento em que Eduarda Soeiro acompanhou a voz quase sussurrada de Tear e também para a primeira vez em que este último começou a incentivar o público a acompanhar o tema, já que, até aqui, ainda não lhe tínhamos ouvido qualquer interação verbal com os presentes.
Quando chegámos ao tema instrumental In Delight with the Mermaid, sentimos alguma dificuldade em ouvir a guitarra acústica em toda a sua plenitude, tal era a animação do público e a lotação da sala. Em Shadow Dance, foi o trabalho do teclista que nos ficou mais no ouvido e, por fim, o Epílogo, terminou, de forma breve e melancólica, a interpretação dos temas do álbum, todos eles com muitos momentos dignos de registo.

Foi, então, a ocasião certa para Tear agradecer a presença de todos e partilhar a sua satisfação pelo regresso da banda ao vivo. Houve ainda tempo para Torn Apart (Locus Horrendus, 2002), White Falling Room (Crowcifix, 2009) e When Sorrow Embraces My Heart (Pentacrow, 1998). Nesta última fase da atuação, ouvimos alguém perguntar ao nosso lado: “Esta é nova?”, na esperança de que a banda trouxesse algum presente de Natal para os fãs.

Após um final arrepiante e a longa ovação do público, Tear voltou a agradecer o apoio de todos e despediu-se com um “Espero que até breve”. Entretanto, do lado da assistência, ouvia-se: “Obrigada, a vocês, por tudo!”.
 

Esperamos que esteja mesmo para breve mais um reencontro com os DESIRE e que 2018 venha acompanhado de boas notícias e mais eventos desta qualidade. 


Texto: Sónia Sanches
Fotos: Hugo Rebelo / Hugo Rebelo Fine Art Photography (todas as fotos aqui)
Agradecimentos: Alma Mater Books & Records

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