>

02/11/2016

[Report] Behemoth, Secrets of The Moon e Mgla @ Paradise Garage (com vídeos)


A noite cinzenta de outono lisboeta, foi adensada pela neblina gelada e a raiva venenosa das obscuras sonoridades que a tour Europa Blasfemia part II trouxe até ao Paradise Garage em Alcântara, sala pequena para as hostes negras que esgotaram o espaço, transformado num lugar de aclamação à destruição blasfema.
Com a pontualidade habitual dos eventos da Prime Artists, abriram a noite os misteriosos Mgla, ainda com muita gente na fila para entrar e na fila para o bengaleiro.
Desde 2000 a aprimorar o seu Black Metal, virtuoso a nível técnico, com um cunho pessoal que lhes garante um som próprio e reconhecível dentro do género, o quarteto "sem rosto" polaco, tinha uma vasta legião de fãs entre o público. Apesar de algumas dificuldades de som que os acompanharam durante a atuação, nada de muito relevante que tenha prejudicado significativamente a experiência, e brindaram todos os presentes com um concerto de grande nível, fazendo disparar logo de início rodopios de cabelo no ar. Os seus Riffs não são tão frios como a linha mais tradicional de escola norueguesa, mas nenhum fã de Black Metal ou de qualquer outro espectro mais obscuro do Metal lhe ficaria indiferente, prova disso os aplausos, gritos e Metal Horns que surgiam em qualquer canto do Paradise Garage.
Concerto sem pausas, nem interações com o público, como usual nos Mgla, apresentando uma set list que percorreu a carreira da banda, apenas ficando de fora o EP Presence (2006). Oito temas com irrepreensível execução técnica que garantiram um espectáculo que por si só já valia a deslocação a Alcântara. A multidão de aplausos que os acompanhou enquanto desapareciam nas trevas para além do palco, de volta ao nevoeiro soturno de onde saíram era a prova irrefutável disso mesmo.

Foi com a casa cheia que os Secrets Of The Moon fizeram ecoar os primeiros acordes de ‘Hole’, sendo recebidos por uma floresta negra de Metal Horns.
A sua música movimenta-se no universo do Black Metal mas é realizada de um modo mais progressivo, único e diverso, recorrendo a uma fórmula que verga algumas das regras rígidas do género, percorrendo um caminho menos linear na expressão da sua crueldade obscura. Conduziram a plateia através de um espectáculo mais morno que o anterior mas com uma maior carga emocional.
Com uma set list curta focaram-se sobretudo no último trabalho Sun (2015) deixando apenas margem para dois temas de trabalhos anteriores, Seven Bells do álbum Seven Bells (2012) e Lucifer Speaks do álbum Antithesis (2006), levando todos numa viagem por uma atmosfera de obscuridade e sussurros tenebrosos, beneficiando da voz rasgada mas nítida do vocalista sG (Philipp Jonas) que cria momentos esquizofrénicos entre os versos, impregnando a sala de uma aura ritualista de culto ao som negro. Com a carga emocional em fase crescente ao longo do concerto, não foi surpreendente que as ultimas músicas ‘Here Lies the Sun’, ‘Man Behind the Sun’ e ‘Lucifer Speaks’ tivessem obtido as melhores reacções, sendo vividas com maior intensidade, tendo os Secrets Of The Moon terminado embalados por muitos Metal Horns enquanto soltavam os Riffs finais. Os aplausos generalizados enquanto abandonavam o palco eram claramente merecidos.

Uma pausa mais prolongada para o Soundcheck dos Behemoth só agravou o estado de ansiedade de todos os presentes, salivantes por ver Nergal e companhia.

Verdadeiros visionários, actualmente talvez a banda mais influente do seu género, em grande forma criativa, como comprovam os últimos trabalhos lançados, nomeadamente o mais recente The Satanist (2014), aclamado pelos fãs. A banda mostrou grande confiança nesse mesmo álbum ao iniciar o concerto tocando-o na íntegra, no seu alinhamento original.


‘Blow Your Trumpets Gabriel’ é um tema perfeito para iniciar um concerto demolidor, Nergal irrompe em palco trazendo consigo uma chama e imediatamente incendeia-se a plateia, libertando todo o entusiasmo e ansiedade em combustão no interior de cada individuo.
 Da plateia surgem gritos incansáveis e headbangings, do palco uma entrega total e contagiante no modo como produzem o seu som, os dois lados interagem e puxam um pelo outro sem que seja necessário uma única palavra, a não ser aquelas que de ambos os lados se erguem para cantar a letra da canção que termina sobe uma chuva de aplausos. Por esta altura já ninguém tinha dúvidas que seria um grande espectáculo. Com ‘Furor Divinus’ surgem crowd surfing e intensificam-se os headbangings prometendo não darem tréguas até ao final. Segue-se Messe Noire’ com Nergal a surgir com incenso a reunir os presentes para gritarem “I believe in Satan”. A teatralidade em palco cria uma aura que desperta no público um fascínio e mistério e conduz todos para a celebração obscura do universo lírico da banda. O álbum The Satanist vai desfilando e o público reage a cada nota tocada com satisfação, o suor que vais descendo dos rostos é um reflexo dessa mesma entrega. ‘O Father O Satan O Sun!’ é o tema que fecha The Satanist. De mascaras no rosto o grupo despede-se do álbum de 2014 e inicia uma nova fase da sua atuação.
Qualquer pausa entre músicas era motivo para gritos pela banda e eles fizeram-se ouvir bem quando ‘Ov Fire and the Void’ implodiu na sala, era tempo para oferecer ao público alguns dos temas que já são grandes hinos, num final de set em modo best of.
Antes de prosseguirem, um raro momento de comunicação verbal para Nergal agradecer a recepção que tiveram e de imediato aquele que talvez tenha sido o tema mais bem recebido, Conquer All conquistou um momento para a imortalidade na memória colectiva das almas soturnas que de olhos postos naquele altar negro escutavam o seu pregador. 
Terminaram com as músicas ‘Pure Evil and Hate’, ‘At the Left Hand ov God’, ‘Slaves Shall Serve’ e ‘Chant for Eschaton 2000’, uma sequência destinada a castigar o corpo de todos na plateia, um prazer a que ninguém se pareceu negar. Abandonaram o palco sem despedidas deixando para traz os aplausos e a certeza que um concerto memorável.

Mais uma noite de grandes concertos oferecida pela Prime Artists que tem brindado os fãs de metal com bons espectáculos ao longo destes últimos anos, um trabalho que merece ser reconhecido, e com o qual espero que possamos contar no futuro, de preferência numa sala maior quando bandas da dimensão dos Behemoth passarem por Lisboa, queira o público nacional contribuir também para isso acorrendo aos bilhetes com a antecedência possível.

Texto: Henrique Duarte
Fotos/Vídeos: Nuno Santos (todas as fotos brevemente na nossa página)



Veja também: